Intervenção de José Barata-Moura, Mandatário nacional da candidatura

Intervenção de José Barata-Moura no jantar com apoiantes da candidatura de Francisco Lopes, Lisboa

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Intervenção de José Barata-Moura no jantar com apoiantes da candidatura de Francisco Lopes, Lisboa

No tempo de marcar uma diferença

1.Nos complexos, e conturbados, processos da vida política — mesmo quando em causa estão a defesa dos interesses do povo (que trabalha), a sobrevivência de um país na sua destinação soberana, a perspectiva necessária de levar a cabo transformações estruturais (no limite: revolucionárias) — os tempos da luta e a direcção dos combates não são todos iguais.

2.Há momentos em que o desafio passa pela procura e pela construção de convergências, pacientemente elaboradas, não ao sabor (oportunista) de para onde os ventos soprados parecem empurrar, mas à luz do desenvolvimento concreto, das contradições em sobressalto e da mobilização das diferentes forças que em melhor condição estão de lhes fazer frente e de as influenciar num sentido positivo.

Há momentos em que o momento requer que o rasgar de alternativas abandone as paragens da abstracção dos princípios para ganhar corpo e respiração no enunciado concreto das políticas que os podem materializar.

Mas há também momentos em que aquilo que se impõe é o marcar de uma diferença — não pelo prazer de apregoar roturas pela rotura, mas porque, sem uma diferença catalizadora de roturas necessárias, não há transformação que conduza para além dos pântanos do conformismo demissionista.

3.Estamos a viver um tempo e um momento em que a convocação da diferença urge.

A especulação liberalista sem freio que usou e abusou dos estafados slogans da «des-regulação», da «flexibilização», das promessas do paraíso pela venda de papel (e pela sobre-exploração de quem produz), trouxe-nos, no plano mundial e nacional, às crises em que nos debatemos.

Engrossa mesmo assim, mais monótono do que polifónico, o coro dos que de diferentes quadrantes, com maior habilidade ou com menos vergonha, preconizam que só há saída — por uma intensificação acelerada das mesmas receitas que aqui nos conduziram.

Se houve crash dos grandes fundos, dos mundos e fundos de instituições financeiras (cuja respeitabilidade era afinal bem escassa), transfira-se agora a alavancagem para uma aberta expropriação forçada — não apenas dos que imediatamente produzem a riqueza, mas também das poupanças, e dos fundos públicos, generosa e leoninamente transferidos, directa e indirectamente, para umas poucas algibeiras de privados.

Aproveite-se, além disso, e por acréscimo, a maré e as ondas de acomodada desorientação induzida para fazer recuar, o mais que possível lhes for consentido, o «custo» dos salários, a protecção social (depois de uma vida de trabalho), o cuidado pela saúde e pela educação, as conquistas, que de Abril chamamos, porque em Portugal sabemos o quanto levaram a pôr de pé — mesmo se de pronto torpeadas pelas mais diversas contra-revoluções (constitucionais e de gaveta).

4.É no tempo deste momento que importa não calar a diferença. Há outros caminhos, há outras políticas, há homens de Estado que não afinam pelos mesmos diapasões, há Partidos e movimentos cívicos que corporizam outros rumos, e seguem outras rotas.

5.É enraizada neste movimento aglutinador de vozes diversificadas, mas irmanadas todavia na urgência de uma unidade de acção, que a candidatura de Francisco Lopes à Presidência da República se perfila.

Estamos aqui hoje reunidos para lhe dar não apenas testemunho do nosso apoio, mas para, com ele, reforçarmos — juntos e em conjunto — um clamor de viragem, de diferença, que importa tornar audível, para que em movimentação cresça, se consolide, avance.

Penso que ao tomar agora a palavra é disto que Francisco Lopes nos irá falar.

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